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Será Que É Possível Pararmos de Sofrer?



Todo mundo, em algum momento, já desejou: “Queria parar de sofrer”. E é natural que seja assim. O sofrimento dói, atravessa, cansa. A promessa de uma vida sem dor parece sedutora, mas será que ela é possível? Ou será que, ao tentar eliminar o sofrimento, corremos o risco de nos afastar da própria vida?

A experiência humana é atravessada pelo mal-estar (Freud, 1930). Viver em sociedade, lidar com perdas, enfrentar os próprios desejos e limites, tudo isso gera conflitos internos inevitáveis. Freud não via o sofrimento como um defeito da vida, mas como um efeito do fato de sermos seres divididos entre o que queremos e o que podemos, entre o prazer e a realidade. Tentar eliminar todo sofrimento seria como tentar eliminar o movimento da vida.

O desejo humano nasce justamente da falta, daquilo que nos falta e nos move (Lacan, 1973). E é essa falta que gera, muitas vezes, o sofrimento. Mas é também ela que nos impulsiona a criar, a buscar, a amar. Sem falta, sem sofrimento, talvez não sobrasse muito além da repetição automática de uma vida sem desejo. O sofrimento, nesse sentido, não é um erro a ser corrigido: é uma marca de que estamos vivos, desejantes, em movimento.

Isso não quer dizer que devemos nos resignar a qualquer dor, nem que precisamos carregar sofrimentos desnecessários. A análise, por exemplo, oferece um espaço para entender de onde vem a nossa dor, e o que nela é inevitável e o que pode ser transformado. Muitas vezes, não conseguimos eliminar o sofrimento, mas podemos aprender a dar a ele um novo lugar, a não nos aprisionarmos nele, a fazer com que ele não impeça o desejo de seguir existindo.

Então, será que é possível parar de sofrer? Talvez a pergunta mais justa seja: é possível sofrer de outra maneira? Sofrer menos contra si mesmo, sofrer sem paralisar, sofrer como quem atravessa, e não como quem afunda. Porque viver, no fim das contas, não é eliminar a dor, é dar a ela um sentido que nos permita continuar desejando.


Referências


Freud, S. (1930). O Mal-Estar na Civilização. In: Obras Completas de Sigmund Freud.


Lacan, J. (1973). Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.

 
 
 

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