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Foto do escritorDaniel Borelli

Por Que Temos Fascinação por Histórias de Tragédias e Desastres?

Atualizado: 23 de set.




Histórias de tragédias e desastres sempre tiveram um lugar especial no imaginário humano. Desde as tragédias gregas até as manchetes sensacionalistas nos dias de hoje, nós parecemos magneticamente atraídos por essas narrativas de destruição e perda. Mas por que isso acontece? Por que nos sentimos tão fascinados por eventos que, na vida real, evitamos a todo custo? A resposta, sob a ótica da psicanálise, está no inconsciente humano e em seus desejos mais profundos e reprimidos.

Freud sugeriu que nosso inconsciente é um território vasto onde convivem tanto os desejos de vida quanto os impulsos de morte. Ele acreditava que dentro de nós existe algo chamado de pulsão de morte (ou thanatos), um impulso que busca o retorno a um estado de inércia e ausência de dor (Freud, 1920). Segundo Freud, esse impulso de morte pode explicar, em parte, nossa atração por histórias trágicas, já que elas nos confrontam diretamente com o fim da vida, com o caos e a destruição, temas que nosso inconsciente está sempre tentando compreender e processar.

Além disso, histórias de tragédias nos colocam em contato com nossos medos mais profundos — o medo da morte, da perda, do insucesso — mas de uma maneira segura. Quando assistimos a um filme sobre um desastre ou lemos sobre uma tragédia histórica, estamos experimentando essas emoções à distância. Essa distância emocional permite que nos envolvamos com esses temas sombrios sem sofrer as consequências diretas. É quase como se estivéssemos nos preparando emocionalmente para enfrentar o caos da vida, mas em um espaço controlado e seguro. Essa "vivência indireta" dos perigos da vida é uma maneira que o inconsciente encontra para nos proteger da dor real, ao mesmo tempo em que nos permite explorá-la (Freud, 1915).

Outro fator que pode explicar essa fascinação é o conceito de catarse, que também tem suas raízes na psicanálise. Freud acreditava que as emoções reprimidas precisam ser liberadas de alguma forma, e histórias de tragédias podem nos oferecer uma forma de liberar essas emoções acumuladas. Ao assistir a um drama intenso ou ler sobre um desastre devastador, podemos experimentar tristeza, medo e alívio, mas de uma maneira que nos deixa purificados. É como se, ao vivenciar essas emoções através de uma história, estivéssemos liberando nossos próprios medos e ansiedades reprimidos de forma controlada e segura (Freud, 1900).

Além disso, as tragédias podem nos lembrar da nossa própria fragilidade e mortalidade. Elas nos forçam a encarar a realidade de que a vida é imprevisível e cheia de incertezas. Freud acreditava que a morte é um dos maiores tabus da sociedade, algo que tentamos evitar pensar ou falar a maior parte do tempo (Freud, 1915). Porém, quando somos confrontados com histórias de tragédias, somos forçados a refletir sobre a vida e a morte, o que pode nos levar a valorizar mais o tempo que temos.

Essa mistura de fascinação e medo, de atração e repulsa, que sentimos ao ouvir histórias de tragédias é, portanto, uma dança entre o consciente e o inconsciente. Essas histórias nos permitem olhar para os aspectos mais sombrios da vida, mas de um lugar seguro, onde podemos processar essas emoções intensas e, ao mesmo tempo, obter uma compreensão mais profunda de nossos próprios medos e desejos.


Referências


  • Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1915). Thoughts for the Times on War and Death. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1900). The Interpretation of Dreams. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

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