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Foto do escritorDaniel Borelli

Por Que Sentimos a Necessidade de Planejar Cada Detalhe da Vida?

Atualizado: 23 de set.



Muitos de nós, em algum momento, já nos pegamos planejando obsessivamente cada detalhe da vida. Desde o trabalho até as férias, passando pelas decisões cotidianas, essa necessidade de controlar o que está por vir pode se tornar uma espécie de "ritual" pessoal. Mas por que sentimos essa compulsão de planejar? O que estamos realmente tentando fazer ao tentar antecipar cada movimento do futuro? A psicanálise oferece uma perspectiva interessante para entender essa busca incessante por controle.

Acredita-se que muito do que fazemos é motivado por forças inconscientes que nem sempre estão claras para nós. O desejo de planejar e controlar cada detalhe da vida, por exemplo, pode estar profundamente enraizado em nosso medo da incerteza e da falta de controle. Para Freud, a mente humana busca constantemente evitar a dor e o desconforto. Assim, o planejamento surge como uma estratégia para evitar o desconhecido, algo que nosso inconsciente vê como potencialmente perigoso (Freud, 1920).

Essa necessidade de planejar pode ser vista como uma maneira de tentar reduzir a ansiedade em relação ao futuro. Freud observou que o futuro, por ser incerto, pode despertar angústia, pois não temos controle sobre o que pode acontecer. Ao tentar prever cada passo, estamos, em certo sentido, construindo uma "espaço de segurança", onde acreditamos que podemos evitar surpresas ou acontecimentos indesejados. O planejamento excessivo, portanto, não é tanto sobre organização prática, mas sim uma tentativa de proteger o ego contra a angústia da incerteza (Freud, 1930).

O desejo de controlar o futuro também pode estar ligado ao que Freud chamou de "pulsão de vida" (Eros), que nos leva a buscar ordem e estabilidade. Quando planejamos, estamos tentando impor essa ordem sobre o caos do mundo externo, como uma forma de garantir que estamos seguros e que nossas necessidades serão atendidas. Planejar nos dá a sensação de que estamos no comando, que podemos moldar o destino de acordo com nossos desejos e, assim, evitar qualquer dor ou frustração futura (Freud, 1923).

No entanto, o desejo de planejar cada detalhe também pode ser uma fuga do presente. Em vez de vivermos o agora, nos concentramos tanto no futuro que deixamos de perceber o que está acontecendo ao nosso redor. Freud sugeriu que, muitas vezes, a nossa mente nos leva a escapar do presente porque estamos lidando com sentimentos que são difíceis de enfrentar no aqui e agora. Ao projetar nossa atenção para o que está por vir, podemos estar, inconscientemente, tentando evitar lidar com questões emocionais do momento presente (Freud, 1911).

Mas o que a psicanálise também nos ensina é que a vida não pode ser totalmente controlada. O imprevisto faz parte da experiência humana, e a tentativa de planejar cada detalhe pode, paradoxalmente, aumentar a nossa ansiedade. Freud nos lembra que, embora a organização e o planejamento tenham seu valor, é importante reconhecer e aceitar que nem tudo estará sempre sob nosso controle. Lidar com a incerteza, aprender a confiar no fluxo da vida, é uma parte essencial do processo de crescimento e de aceitação de nossa própria vulnerabilidade.

Planejar, então, é uma tentativa de construir segurança diante do caos, mas também pode ser uma forma de evitar o confronto com as emoções do presente e com a imprevisibilidade da vida. Talvez, ao invés de nos agarrarmos rigidamente a nossos planos, devêssemos aprender a encontrar um equilíbrio entre o desejo de controle e a capacidade de aceitar o inesperado. Afinal, a verdadeira liberdade pode estar em aceitar que nem tudo pode ser previsto.


Referências


Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.


Freud, S. (1930). Civilization and Its Discontents. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.


Freud, S. (1923). The Ego and the Id. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.


Freud, S. (1911). Formulations on the Two Principles of Mental Functioning. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

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