Relações destrutivas, onde prevalece o sofrimento, a insegurança e, muitas vezes, o abuso, são mais comuns do que gostaríamos de admitir. Apesar de saber que essas relações nos fazem mal, muitas vezes nos apegamos a elas, permanecendo em um ciclo de dor e insatisfação. Mas por que isso acontece? O que nos leva a nos agarrar a algo que, claramente, nos prejudica?
A Busca Inconsciente pelo Familiar
Uma das razões pelas quais nos apegamos a relações destrutivas é a busca inconsciente pelo que nos é familiar. Desde a infância, formamos nossos primeiros vínculos emocionais, que, para o bem ou para o mal, moldam nossas expectativas sobre o que o amor e o afeto devem ser. Se crescemos em um ambiente onde o amor vinha acompanhado de dor, rejeição ou manipulação, é provável que, na vida adulta, busquemos, sem perceber, recriar esses mesmos padrões em nossos relacionamentos.
A psicanálise sugere que tendemos a repetir padrões de comportamento que nos são familiares, mesmo que sejam prejudiciais. Sigmund Freud chamou isso de “repetição compulsiva”, onde tentamos, inconscientemente, resolver traumas passados recriando situações semelhantes (Freud, 1920). Portanto, uma pessoa pode se apegar a uma relação destrutiva porque ela espelha uma dinâmica familiar que, apesar de dolorosa, é conhecida e, de certa forma, confortável.
Outra explicação para o apego a relações destrutivas pode estar relacionada ao medo da solidão e à dificuldade de enfrentar o desconhecido. A psicanalista Melanie Klein sugeriu que o medo de estar só pode levar uma pessoa a se agarrar a qualquer tipo de relacionamento, mesmo que seja destrutivo, como uma forma de evitar a angústia da separação e da solidão (Klein, 1946). Esse medo pode ser tão intenso que a pessoa prefere suportar o sofrimento familiar ao invés de enfrentar o vazio e a incerteza de estar só. Compreender e trabalhar através desses medos é crucial para romper com o ciclo de relações destrutivas.
Superando o Apego
Superar o apego a uma relação destrutiva começa com o reconhecimento dos padrões tóxicos e da consciência das razões subjacentes para esse apego. A terapia pode ser um recurso valioso para ajudar a desvendar essas questões profundas e reprogramar as expectativas em relação aos relacionamentos.
É fundamental entender que o amor não deve ser doloroso nem manipulado. Ele deve ser um espaço de segurança, respeito e crescimento mútuo. Romper com esses padrões e buscar relacionamentos saudáveis pode ser um desafio, mas é um passo essencial.
Referências
Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.
Klein, M. (1946). Envy and Gratitude. The Writings of Melanie Klein.
Comments