Por que as vezes sentimos um vazio?
- Daniel Borelli
- 8 de mai.
- 2 min de leitura

Sentir um vazio não é sinal de que algo deu errado. Sentir um vazio é, na verdade, parte de existir. Desde muito cedo, aprendemos que algo sempre nos escapa, o afeto perfeito, a palavra exata, a sensação de sermos totalmente compreendidos. É essa falta, tão familiar e tão desconhecida, que volta a nos tocar em alguns momentos da vida. O vazio que sentimos não é uma falha no sistema, ele é a própria marca do que nos faz humanos.
O ser humano nasce para a falta, ninguém tem tudo, ninguém é tudo para o outro, e nada do que encontramos fora: objetos, amores, conquistas, consegue tapar o buraco que nos habita (Lacan, 1973). O vazio que sentimos, então, não é algo a ser eliminado. Ele é o espaço onde nossos desejos se movem, onde a nossa história se desenha. Sem ele, não haveria sonho, nem amor, nem criação.
Quando o vazio dói, nossa primeira reação é querer preenchê-lo: comprando, produzindo, amando, correndo. Mas nenhuma dessas coisas é capaz de apagar aquilo que é estrutural em nós. A angústia surge justamente aí: quando tentamos encontrar uma resposta definitiva para um vazio que é, por natureza, infinito. Talvez a tarefa não seja apagar o vazio, mas aprender a habitá-lo. A sustentá-lo. A fazer dele o terreno onde possamos construir algo novo.
Porque é nesse espaço de falta que a vida acontece de verdade. A falta nos inquieta, mas também nos move. Ela nos impede de parar. Ela nos lança para fora de nós mesmos, na direção do que ainda não sabemos, do que ainda não somos. E talvez, só talvez, aprender a conviver com esse vazio, sem pressa de preenchê-lo, seja o gesto mais ousado e mais vivo que podemos fazer.
Referências
Lacan, J. (1973). The Four Fundamental Concepts of Psychoanalysis.
Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle.
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