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Por Que Algumas Pessoas São Mais Afetadas por Rejeições Amorosas do que Outras

Foto do escritor: Daniel BorelliDaniel Borelli


Rejeições amorosas são dolorosas para todos, mas já percebeu como algumas pessoas parecem sofrer mais intensamente com isso do que outras? Enquanto alguns conseguem lidar com o fim de um relacionamento de maneira relativamente tranquila, outras se sentem devastadas, como se tivessem perdido uma parte essencial de si mesmas. Por que isso acontece? A psicanálise oferece uma perspectiva fascinante sobre por que algumas pessoas são mais vulneráveis a esse tipo de rejeição emocional.

Acredita-se que nossas primeiras experiências de afeto e cuidado, geralmente vividas na infância, moldam profundamente a maneira como lidamos com o amor e a perda na vida adulta. Quando uma criança se sente amada e segura nos primeiros anos de vida, ela desenvolve uma espécie de "base emocional" que a ajuda a lidar com decepções e rejeições no futuro. No entanto, se essa base é instável ou marcada por rejeições iniciais, a pessoa pode carregar essa ferida ao longo da vida, tornando-se mais sensível ao abandono e à rejeição amorosa (Freud, 1920).

Além disso, Freud acreditava que o amor e a autoestima estão intimamente conectados. Para muitas pessoas, estar em um relacionamento amoroso não é apenas uma experiência de afeto, mas também uma fonte importante de validação pessoal. Quando alguém é rejeitado, o que está em jogo não é apenas a perda do outro, mas também a perda de uma parte da própria identidade que estava construída em torno desse amor. A rejeição pode ser sentida como uma negação do próprio valor. É como se, ao ser rejeitada, a pessoa começasse a questionar se é digna de amor e afeto — um golpe profundo para o ego (Freud, 1914).

A intensidade do sofrimento após uma rejeição amorosa também pode estar ligada à maneira como a pessoa lida com seus próprios desejos e expectativas. Algumas pessoas idealizam o parceiro ou o relacionamento, projetando nele todas as suas expectativas de felicidade e realização. Quando o relacionamento termina, não é apenas a perda do outro que é sentida, mas também a perda dessa fantasia idealizada. Para Freud o choque de descobrir que aquilo que idealizamos não é perfeito pode ser especialmente difícil para algumas pessoas (Freud, 1923).

Além disso, a rejeição amorosa pode despertar medos mais profundos, relacionados à solidão ou ao abandono. Em alguns casos, a pessoa pode associar inconscientemente o término de um relacionamento com o medo de ser deixada para sempre, de nunca mais ser amada. Esse medo de ficar sozinho pode ter raízes na infância, quando a criança, ao sentir-se separada de seus cuidadores, experimentava uma ansiedade de abandono. Na vida adulta, a rejeição reativa esse medo primitivo, e é por isso que algumas pessoas têm tanta dificuldade em se recuperar de um rompimento (Freud, 1915).

No entanto, é importante lembrar que as rejeições amorosas não têm o mesmo impacto em todos. Pessoas que têm um forte senso de si mesmas, que conseguem ver valor próprio além do relacionamento, tendem a se recuperar mais rapidamente. Isso porque, para elas, o amor não é a única fonte de autoestima. Para Freud, o desenvolvimento de uma autoestima saudável é uma parte essencial para lidar com a dor da rejeição de maneira mais equilibrada (Freud, 1923).

Em última análise, a forma como uma pessoa lida com a rejeição amorosa depende de sua história emocional, de suas experiências passadas e de como constrói sua identidade no presente. O que a psicanálise nos ensina é que as feridas emocionais que carregamos têm raízes profundas, e entender essas raízes pode nos ajudar a enfrentar a dor de uma maneira mais consciente e saudável.


Referências


  • Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1914). On Narcissism: An Introduction. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1923). The Ego and the Id. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1915). Instincts and Their Vicissitudes. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

 
 
 

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