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Por Que Algumas Pessoas Preferem se Isolar em Momentos de Crise?

Foto do escritor: Daniel BorelliDaniel Borelli


Em momentos de crise, cada pessoa reage de maneira diferente. Enquanto alguns buscam apoio e companhia para enfrentar as dificuldades, outros optam por se isolar, afastando-se do mundo e preferindo lidar com seus sentimentos a sós. A escolha pelo isolamento em tempos difíceis pode parecer estranha para alguns, mas, sob a perspectiva psicanalítica, esse comportamento faz sentido e está ligado a processos internos profundos.

Acredita-se que em tempos de sofrimento, nossa mente tenta encontrar maneiras de se proteger. Para algumas pessoas, o isolamento é uma estratégia de defesa. Ao se afastar do convívio social, elas criam uma espécie de “bolha” onde podem lidar com seus sentimentos sem a pressão ou interferência dos outros. Esse espaço pessoal lhes permite processar a dor e a angústia de uma maneira mais tranquila e segura, onde têm controle sobre o que sentem e pensam (Freud, 1920).

O isolamento também pode ser uma forma de evitar a vulnerabilidade. Em momentos de crise, muitos de nós nos sentimos expostos, e a ideia de mostrar essa vulnerabilidade para os outros pode ser desconfortável. Freud sugeria que o ser humano, muitas vezes, prefere ocultar seus sentimentos mais profundos para evitar julgamentos ou decepções. Assim, o isolamento se torna uma forma de proteger a imagem que construímos de nós mesmos, evitando que os outros vejam nossas fragilidades (Freud, 1915).

Além disso, algumas pessoas se isolam porque preferem resolver suas questões internamente. A psicanálise nos ensina que, em momentos de crise, somos muitas vezes levados a confrontar aspectos de nós mesmos que costumamos evitar. Esse processo de introspecção pode ser intenso e exige uma imersão profunda em nossos próprios pensamentos e emoções. Para quem escolhe o isolamento, estar sozinho é uma oportunidade de ouvir a si mesmo, de se conectar com suas emoções e de buscar, em silêncio, as respostas que precisa (Freud, 1930).

Freud também acreditava que cada pessoa tem uma forma única de reagir ao estresse e à dor. Para algumas, a companhia dos outros é um alívio, mas para outras, o barulho, as conversas e as opiniões alheias podem ser um peso extra durante uma crise. Ao se isolar, essas pessoas estão tentando reduzir o excesso de estímulos externos, criando um ambiente onde possam lidar com suas dores de maneira mais tranquila e sem distrações. Nesse espaço de silêncio, elas encontram um refúgio que as ajuda a reorganizar as emoções e a recuperar o equilíbrio interno (Freud, 1923).

Entretanto, o isolamento também tem seus riscos. É necessário lembrar que o contato e o apoio são importantes, especialmente em tempos de crise. O isolamento pode ser uma maneira de se proteger, mas quando prolongado, pode nos afastar das conexões que podem oferecer consolo e apoio. É preciso encontrar um equilíbrio: respeitar o espaço para a introspecção, mas também permitir-se a proximidade daqueles que podem nos ajudar a ver a situação de outra perspectiva e a encontrar uma saída para a dor.


Referências


  • Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1915). Instincts and Their Vicissitudes. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1923). The Ego and the Id. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1930). Civilization and Its Discontents. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

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