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O Que Significa “Superar” um Trauma?

Foto do escritor: Daniel BorelliDaniel Borelli


Quando ouvimos a palavra "superar" em relação a um trauma, muitos de nós imaginamos que isso significa deixar para trás o que aconteceu, esquecer a dor e seguir em frente como se nada tivesse ocorrido. No entanto, a realidade é bem diferente. Sob uma perspectiva psicanalítica, superar um trauma não significa apagar a experiência, mas sim aprender a conviver com ela, transformando essa dor em algo que não nos paralise ou defina completamente.

A psicanálise acredita que os traumas marcam profundamente nossa vida emocional. Quando algo doloroso nos acontece, nossa mente tende a criar maneiras de nos proteger dessa dor intensa. O trauma, então, se instala como uma experiência que não foi completamente compreendida ou digerida. Ao longo do tempo, ele pode voltar à tona, influenciando nossos sentimentos e comportamentos, muitas vezes de maneira que não entendemos completamente (Freud, 1920).

Superar um trauma, portanto, não significa esquecer ou enterrar a experiência, mas sim encontrar um espaço seguro dentro de nós para processar o que aconteceu. É como aprender a olhar para uma cicatriz: ela não desaparece, mas aos poucos deixa de doer e passa a ser apenas uma marca, um sinal de algo que vivemos. Para Freud, o processo de superação envolve trazer o trauma para a consciência, entender como ele impacta nossa vida e, aos poucos, aceitar que faz parte da nossa história, sem deixar que ele defina toda a nossa existência (Freud, 1914).

Muitas vezes, o trauma faz com que nos sintamos desamparados ou fora de controle. Esse sentimento de vulnerabilidade pode nos acompanhar durante anos, até que encontremos maneiras de reconstruir nosso senso de segurança e poder sobre nossa própria vida. Superar, então, envolve também esse reencontro com a nossa força interior — a capacidade de seguir em frente apesar da dor. Freud acreditava que, ao processar as emoções relacionadas ao trauma, aprendemos a nos reconectar com essa força e a redescobrir que somos mais do que nossa dor (Freud, 1930).

Além disso, superar um trauma envolve, muitas vezes, a capacidade de encontrar um novo significado para o que aconteceu. Não se trata de justificar ou minimizar a dor, mas de buscar uma nova perspectiva que nos permita crescer e nos transformar. Freud sugeria que, ao dar um novo sentido à nossa experiência, encontramos uma maneira de integrar o trauma à nossa vida sem que ele se torne uma barreira intransponível. Esse processo de transformação é essencial para seguir em frente (Freud, 1915).

Portanto, superar um trauma não é apagar ou negar o que aconteceu. É, na verdade, um processo de acolhimento e compreensão. Envolve aprender a viver com as cicatrizes emocionais, reconhecendo que elas fazem parte de quem somos, mas não definem tudo o que seremos. Superar é um processo de aceitação e transformação, em que, ao nos depararmos com a dor, encontramos também o caminho para a cura e o crescimento.


Referências


  • Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1914). On Narcissism: An Introduction. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1915). Instincts and Their Vicissitudes. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1930). Civilization and Its Discontents. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

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