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Como o Silêncio Pode Ser Mais Poderoso Que Palavras

Atualizado: 23 de set. de 2024

O silêncio é uma presença intrigante. Em um mundo onde estamos cercados por palavras e estímulos constantes, o silêncio muitas vezes é subestimado. Mas, sob uma perspectiva psicanalítica, o silêncio tem um poder imenso. Ele não é apenas a ausência de som, mas um espaço onde o inconsciente pode se revelar, onde a escuta verdadeira acontece e onde o diálogo mais profundo com o outro – e com nós mesmos – pode emergir. O silêncio, em muitos casos, pode dizer mais do que qualquer palavra.

Freud enfatizou a importância de ouvir de verdade o que está além do que é dito. Para ele, o que as pessoas não dizem pode ser tão revelador quanto o que dizem. O inconsciente, segundo Freud, se expressa não apenas nas palavras, mas também nos silêncios, nas pausas e nos lapsos. Muitas vezes, quando estamos diante de uma conversa, o que fica "entre as palavras" contém um significado profundo que escapa ao discurso comum (Freud, 1900).

O silêncio cria um espaço seguro para que as emoções e pensamentos ocultos possam surgir. Quando não estamos preocupados em falar ou preencher o vazio com palavras, temos a oportunidade de observar o outro mais de perto, de perceber gestos, expressões e emoções que, de outra forma, poderiam passar despercebidos. Freud sugeria que o verdadeiro ouvinte é aquele que consegue "escutar com o terceiro ouvido", que capta o que está subjacente nas palavras ou até na ausência delas (Freud, 1912). Em um ambiente de silêncio, o inconsciente pode se expressar com mais liberdade.

Além disso, o silêncio nos ensina sobre a paciência e a aceitação. Vivemos em uma sociedade que valoriza a resposta rápida e o preenchimento contínuo de espaços vazios. Sentir-se à vontade no silêncio, seja em uma conversa ou em nossa vida interior, requer uma aceitação do desconhecido, do que pode estar surgindo, sem apressar-se em rotular ou interpretar. O silêncio pode ser desconfortável, pois nos obriga a encarar o que muitas vezes preferimos evitar. No entanto, é justamente nesse desconforto que reside a possibilidade de crescimento e autoconhecimento.

Freud acreditava que, em muitos casos, falar incessantemente é uma forma de fugir do que realmente sentimos. Quando estamos em silêncio, somos confrontados com nossas emoções mais profundas, e o mesmo acontece em uma conversa: o silêncio permite que o outro revele algo mais autêntico. O ato de escutar, então, se torna um gesto de empatia e aceitação, um espaço onde o outro pode existir sem julgamento (Freud, 1915).

O silêncio também nos ensina a estar presentes. Muitas vezes, estamos tão focados em pensar no que vamos dizer a seguir que deixamos de prestar atenção ao que o outro está realmente dizendo. Ao ficarmos em silêncio, estamos, de certa forma, dizendo ao outro: "Estou aqui, ouvindo você completamente." E esse tipo de presença é extremamente poderoso. É um tipo de escuta que não busca respostas imediatas, mas que valoriza a conexão e o entendimento.

Assim, o silêncio é uma linguagem por si só. Ele permite que a escuta verdadeira aconteça, nos desafia a enfrentar nossos próprios medos e ansiedades, e cria um espaço onde as palavras podem finalmente surgir com mais clareza e significado. Como Freud nos ensinou, o silêncio é, muitas vezes, o caminho para a verdade tanto a nossa quanto a do outro.


Referências


Freud, S. (1900). The Interpretation of Dreams. The Standard Edition of the Complete

Psychological Works of Sigmund Freud.


Freud, S. (1912). Recommendations to Physicians Practicing Psycho-Analysis. The Standard Edition of the Complete

Psychological Works of Sigmund Freud.


Freud, S. (1915). The Unconscious. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

 
 
 

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