top of page
Foto do escritorDaniel Borelli

A Ilusão da Perfeição: Como a Busca Pelo Ideal Nos Afeta


Um texto sobre a visão de diferentes autores



Vivemos em um mundo onde a perfeição é idealizada em cada canto. Vemos vidas perfeitas nas redes sociais, ouvimos sobre carreiras brilhantes e até as capas de revista exibem pessoas e corpos aparentemente sem defeitos. E com tudo isso, é fácil começar a acreditar que, para sermos felizes ou bem-sucedidos, também precisamos ser perfeitos. Mas, sob uma perspectiva psicanalítica, essa busca pela perfeição pode ser mais prejudicial do que parece, uma vez que frequentemente nos desconecta de quem realmente somos.

Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, acreditava que a mente humana é motivada por desejos e conflitos profundos, muitos dos quais nem sempre estamos conscientes. Quando perseguimos a perfeição, podemos estar tentando preencher um vazio ou compensar uma sensação de inadequação interna. Na realidade, essa busca pelo ideal muitas vezes nasce de um desconforto com nós mesmos, uma tentativa de fugir de partes que consideramos imperfeitas ou insuficientes. Freud descrevia essa busca como uma maneira de nos “aliviar” de nossas próprias inseguranças, nos distraindo com a promessa de que, se formos perfeitos, finalmente estaremos em paz com nós mesmos (Freud, 1914).

A perfeição, no entanto, é uma ilusão. No fundo, todos sabemos que a vida é cheia de altos e baixos, que temos falhas e que momentos difíceis fazem parte do nosso crescimento. Ainda assim, a ideia de alcançar um ideal parece irresistível. Talvez, como Jacques Lacan sugeriu, isso aconteça porque estamos sempre em busca de um “objeto” que complete algo em nós, algo que traga uma satisfação total. Esse “objeto”, muitas vezes, é o ideal de perfeição. Entretanto, essa busca se torna uma armadilha, pois ao tentarmos preencher esse vazio com o ideal, acabamos nos distanciando ainda mais de nossa realidade e autenticidade (Lacan, 1973).

Assim, a busca pela perfeição pode nos levar a um ciclo de insatisfação e autocrítica, onde nada parece ser bom o suficiente. Esse ciclo acaba prejudicando a maneira como nos relacionamos com o mundo e até mesmo com as pessoas ao nosso redor. Em vez de nos tornarmos mais completos, acabamos nos isolando em um ideal irreal, esquecendo que é justamente nossa humanidade, com todas as falhas e imperfeições, que nos permite crescer e nos conectar com os outros.

No fim, a psicanálise nos convida a refletir sobre a perfeição como uma ilusão que alimenta nossas inseguranças e nos limita. A verdadeira liberdade está em aceitar que somos imperfeitos e que, muitas vezes, é nas falhas e nos erros que encontramos oportunidades reais de crescimento e de construção de relações mais verdadeiras. Afinal, o ideal da perfeição não nos aproxima de uma vida mais plena; pelo contrário, ele nos afasta da realidade, nos distanciando de quem realmente somos.


Referências


  • Freud, S. (1914). On Narcissism: An Introduction. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Lacan, J. (1973). The Four Fundamental Concepts of Psychoanalysis.


3 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page