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Foto do escritorDaniel Borelli

A Ansiedade do “E Se?”: Como a Indecisão nos Afeta




Quem nunca se viu preso nas garras do temido “e se?”? Essa pequena pergunta, tão aparentemente inofensiva, tem o poder de nos arrastar para uma espiral de ansiedade e indecisão. "E se eu tomar a decisão errada?", "E se eu fizer isso e me arrepender?", "E se as coisas derem errado?" – essas são questões que todos enfrentamos em algum momento, mas por que elas nos causam tanto sofrimento? E como a psicanálise pode nos ajudar a entender essa ansiedade que parece nos paralisar?

Sigmund Freud acreditava que muitas das nossas angústias vêm de conflitos internos, especialmente quando estamos diante de escolhas. Para Freud, o ser humano é constantemente pressionado por desejos contraditórios. Quando nos deparamos com uma decisão importante, essas forças entram em choque dentro de nós, criando um conflito inconsciente. A indecisão surge justamente dessa luta interna – é como se parte de nós quisesse seguir um caminho, enquanto outra parte estivesse presa ao medo do desconhecido (Freud, 1920).

O "e se?" é, na verdade, um reflexo desse medo do desconhecido. Quando nos questionamos repetidamente sobre as possíveis consequências de uma decisão, estamos tentando, de alguma maneira, controlar o futuro e evitar qualquer erro ou arrependimento. No entanto, esse desejo de controle, ao invés de nos ajudar, muitas vezes nos paralisa. O futuro é imprevisível, e o desejo de ter todas as respostas antes de agir é, em essência, um desejo impossível de satisfazer. Freud sugeria que a tentativa de evitar a incerteza, através da indecisão, só aumenta nossa ansiedade, pois nos afastamos da experiência real de viver e tomar decisões (Freud, 1926).

Além disso, essa ansiedade do “e se?” pode ser entendida como uma maneira de nosso inconsciente tentar nos proteger. É como se, ao ficarmos parados no campo da indecisão, estivéssemos evitando enfrentar os medos mais profundos de falhar, de perder ou de ser rejeitado. O "e se?" nos mantém numa zona de conforto ilusória, onde não precisamos confrontar o desconhecido, mas também não avançamos. Essa postura pode nos dar uma falsa sensação de segurança, mas, ao mesmo tempo, nos impede de crescer e evoluir (Freud, 1930).

Outra faceta interessante dessa indecisão, segundo a psicanálise, é a idealização do "caminho perfeito". Muitas vezes, nossa mente constrói a ilusão de que existe uma escolha certa, que nos levará ao sucesso, à felicidade, à ausência de arrependimentos. Mas, na realidade, a vida é composta por escolhas imperfeitas. Cada caminho tem suas vantagens e desvantagens, e esperar que uma decisão nos leve à perfeição é um pensamento irrealista que só aumenta a ansiedade (Freud, 1915).

A psicanálise nos convida a enxergar a indecisão sob uma nova perspectiva: como um reflexo do nosso medo de errar e do nosso desejo de evitar o sofrimento. No entanto, aprender a viver com a incerteza, aceitar que o erro faz parte do processo, pode nos libertar dessa prisão emocional. Tomar decisões é, em última análise, um ato de coragem, de aceitar que não podemos controlar tudo, e que o crescimento pessoal muitas vezes nasce justamente daquilo que não podemos prever.

Portanto, o “e se?” que tanto nos atormenta pode ser um sinal de que estamos tentando evitar a vida real, cheia de escolhas e incertezas. Talvez a saída seja simples, embora não fácil: aceitar o risco, tomar uma decisão e entender que, independentemente do caminho escolhido, sempre haverá algo a aprender.


Referências


  • Freud, S. (1915). Instincts and Their Vicissitudes. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1920). Beyond the Pleasure Principle. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1926). Inhibitions, Symptoms and Anxiety. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.

  • Freud, S. (1930). Civilization and Its Discontents. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.


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